Liceu Pasteur - Ensino Médio, Fundamental

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Reportagens - 08/11/2011

Mais do que ensinar

Alzira Tieko Katsuya passou 47 anos lecionando no Liceu Pasteur e, em 2011, encerra sua jornada como professora da Instituição. Referência para todos aqueles que escolhem seguir a profissão, ela deixa um recado: ser professor é mais do que ensinar.

A história de Alzira Tieko Katsuya é exemplo de dedicação à profissão e ao Liceu Pasteur. Exatamente por esse motivo que o colégio reservou uma homenagem especial em 15 de Outubro, Dia do Professor, para marcar sua despedida de 47 anos de serviços prestados à Instituição. Em almoço de confraternização com a presença de todo o corpo docente do Liceu Pasteur, D. Alzira (como é conhecida na escola) acompanhou o discurso do diretor, Dr. Moacyr Expedito Marret Vaz Guimarães, que evidenciou a importância dela para o desenvolvimento dos alunos, tanto na parte intelectual como na formação moral, e o valioso legado que ela deixa para todos os professores que hoje têm em suas mãos o bastão do desafio de passar conhecimento a crianças e jovens.

D. Alzira começou a lecionar História no Liceu Pasteur em 1964. Mas sua relação com o colégio começou ainda adolescente no ano de 1954. Ela chegava à Capital paulista, vinda de Ourinhos, no Interior paulista, em busca de uma instituição de ensino com referências de qualidade para poder fortalecer seu currículo escolar. Ao fazer os exames para ingressar no Liceu Pasteur, D. Alzira foi recomendada a procurar por outra escola, pois ainda não tinha bagagem suficiente para acompanhar os outros estudantes. Mesmo chateada com a situação, pois seu desejo era mesmo estudar no Liceu, incentivada pelo irmão, que já era aluno do colégio, ela buscou estudar em Instituição tão forte quanto à que almejava.

  Foram anos de muitos estudos dali em diante, tanto que, ao finalizar o Ensino Médio, conseguiu conquistar vaga para cursar Filosofia na USP (Universidade de São Paulo). Formou-se em 1960 e, no ano seguinte, foi um dos quatro universitários a conseguir bolsa para pós-graduação na Universidade Imperial de Tóquio para curso de Influência da Arte Japonesa no Impressionismo. “Lembro que fui ao Japão, incentivada por professor da USP, que me disse que eu tinha uma herança biológica e que não poderia perder a herança cultural. Foi ele inclusive que me ajudou bastante a conseguir a bolsa, que foram as primeiras liberadas pelo Governo Japonês para dois brasileiros e dois filhos de japoneses residentes no Brasil”, revela D. Alzira.
Voltou ao Brasil em 1963, quando começou a carreira como professora. D. Alzira deu os primeiros passos ao lecionar Filosofia no Colégio Paulistano. Não demorou muito e, em 1964, decidiu voltar ao Liceu Pasteur para lecionar História. Naquele exato momento, ela não imaginava que seriam mais de quatro décadas levando aos alunos muito conhecimento e, mais do que isso, uma carga maior de informação para formar cidadãos, que vai além do que se pode encontrar nos livros didáticos.

Na sala de aulaD. Alzira é uma professora bastante peculiar. Consegue ter perante seus alunos um ar de seriedade e troca de respeito admiráveis. Ela lembra que, ainda em 1964, era comum ver os alunos se levantarem ao notar que o professor entrara na sala de aula. Mas ela sublinha: “Era algo comum, que evidenciava a importância de se respeitar a hierarquia da escola”. Os anos se passaram, os novos tempos chegaram e D. Alzira conseguiu manter essa postura até o último dia em que deu uma aula. “Eu não obrigava os alunos a se levantar. Mas era algo muito simbólico do respeito deles pela imagem do mestre que lhes passa conhecimento. Aparentemente, pode parecer detalhe. Mas é também uma forma de levarem isso para fora quando forem ao mercado de trabalho e entenderem que é preciso ter postura perante seus líderes. É algo que conta muito, somado à formação intelectual”, acredita a professora.

Dr. Moacyr Expedito Marret Vaz Guimarães, Diretor Geral e Cláudio Kassab, Vice-Diretor Geral da Instituição

Até mesmo Cláudio Kassab, hoje Vice-Diretor Geral da Instituição, lembra desse gesto emblemático. “D. Alzira tem como marca registrada a serenidade e postura, e transferia isso de forma muito natural aos seus alunos. Levantávamos naturalmente ao vê-la entrar na sala. É uma atitude de respeito que levamos para a vida toda”, conta.

Hoje e ontemPara quem teve contato com pelo menos três gerações de estudantes, D. Alzira é uma referência quando o assunto é entender as mudanças que aconteceram no perfil dos alunos em quase cinco décadas. Não seria nada fora do normal sugerir àqueles que decidirem seguir a profissão de professor, ter como primeira lição um bate-papo com ela.
Ela começaria dizendo que as mudanças são enormes ao longo das décadas. Desde 1964 e até o começo dos anos 2000, o que se viu foi uma revolução da relação entre alunos e professores. Do começo da década de 60 até o início da década de 90, os alunos eram abastecidos de forma predominante pelas informações que vinham apenas da escola e do ambiente familiar. Isso fazia com que eles tivessem atenção maior às questões das disciplinas e do conteúdo programático. “Não havia muita fonte de informação e eles ficavam mais focados”, completa.

O que aconteceu a partir da década de 90 foi um enorme incremento das ferramentas para absorção de conhecimento. A tecnologia passou a fazer parte do dia a dia do estudante e, ao ter um computador em casa, ele trafegou por outros universos. “A evolução foi muito grande. Eles passaram a ter novas dúvidas, trazem assuntos complexos para debates dentro da sala de aula e são bastante espertos. Os games eletrônicos também são responsáveis pelo desenvolvimento maior no raciocínio”, explica. Mesmo assim, D. Alzira considera que é preciso lapidar essa evolução. “Os alunos hoje são bem evoluídos, mas não utilizam isso de forma direcionada ao estudo. É preciso guiá-los”, aconselha. Ela, inclusive, exemplifica como fez para tentar acompanhar as mudanças. “Levava temas atuais para dentro da sala de aula e mostrava como eu, que já tenho uma vivência maior, enxergava aquela situação. Na seqüência, pedia que eles me contassem como viam aquele mesmo fato. Assim eu poderia entender a visão deles e moldar minha aula aos anseios deste novo aluno”, revela.  

Provavelmente, ao final de um suposto bate-papo que o professor mais jovem tivesse com D. Alzira, ela não deixaria de escapar uma dica: “eu achava que professor era aquele que ensina e que transmite ao jovem algo sobre a disciplina, mas percebi com o tempo que não é isso, é muito mais. É preciso dar a ele noção do mundo lá fora e formá-lo intelectualmente e moralmente.” Saber mais de toda essa história de dedicação de D. Alzira já nos deixa mais próximos do tom de emoção do discurso do Dr. Moacyr Vaz Guimarães e da importância do almoço de confraternização do Dia do Professor deste ano no Liceu Pasteur.

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